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MULHER OU MÃE? UMA ESCOLHA, NÃO UMA OBRIGAÇÃO

  • Foto do escritor: Portal Destaques
    Portal Destaques
  • 14 de jun.
  • 2 min de leitura

Por: Efigénia Jorge


Entre a vocação, o desejo e a imposição social, o direito de ser — ou não ser — mãe precisa ser respeitado.


Sempre ouvi, desde pequena, que "toda mulher nasce para ser mãe". Cresci com essa ideia repetida como um destino inquestionável. No entanto, à medida que amadureço — como mulher e como mãe —, essa crença tem me causado cada vez mais inquietação. Será mesmo que a maternidade é um caminho obrigatório para todas nós? Questiono, hoje, aquilo que antes aceitei sem reservas.


A experiência real da maternidade está longe daquela imagem idealizada que muitos — inclusive mulheres — perpetuam. Ser mãe vai muito além de amar e cuidar dos filhos. É um compromisso diário, exaustivo, invisível, muitas vezes solitário, onde as demandas nunca cessam. É uma jornada que exige resiliência, equilíbrio emocional, paciência e uma boa dose de bom humor.


Apesar de amar os meus filhos e me sentir realizada em muitos momentos, não posso negar o cansaço, o estresse e o peso das múltiplas responsabilidades que a maternidade impõe. A romantização desse papel esconde desafios profundos — desde a ausência de redes de apoio até a cobrança para manter-se fisicamente impecável, mesmo diante do desgaste físico e mental.


Nos últimos anos, movimentos como o "No Mothers", nascido no Reino Unido, têm ganhado espaço e representatividade. Mulheres que optam por não ser mães, por razões pessoais, profissionais ou sociais, reivindicam o direito de escolher outro caminho. Uma escolha que não deveria ser vista com espanto ou julgamento, mas com respeito.


Em resposta, proponho o termo "Yes Mothers" — não como antagonismo, mas como afirmação da escolha consciente de ser mãe. Eu escolhi ser mãe, e isso me realiza. Mas confesso: há dias em que queria ser apenas mulher, sem as amarras da maternidade. Entendo profundamente aquelas que preferem não seguir esse caminho, seja por medo, contexto económico ou simplesmente desejo de viver outras experiências.


A maternidade é um verdadeiro ministério, e como tal, requer vocação. Para ser uma boa mãe, é necessário renunciar a certas liberdades — inclusive a de tempo e descanso. A mãe moderna desempenha múltiplos papéis: cuidadora, educadora, conselheira, psicóloga... E, frequentemente, tudo isso sozinha, mesmo com um parceiro presente.


Dados da pesquisa da Bayer (2019) revelam que 37% das brasileiras não desejam ser mães, um número significativo que aponta para uma transformação nos padrões reprodutivos e sociais. Já o Relatório Global da UNESCO (2023) mostra um aumento expressivo da escolarização feminina, especialmente em regiões como a África Subsariana. Quanto mais acesso à educação, maior é a autonomia das meninas para decidirem seus próprios caminhos — inclusive o de não serem mães.


Hoje, as mulheres ocupam espaços antes impensáveis: lideram empresas, fazem ciência, comandam na política, brilham nas artes. E algumas, sim, escolhem também ser mães. Outras não. E tudo bem. A plenitude feminina não pode mais ser medida exclusivamente pela maternidade.


Reafirmo, portanto: nem toda mulher nasce preparada para ser mãe — e isso não é um defeito. A maternidade pode surgir, mais tarde ou nunca. É um caminho possível, mas não obrigatório. O mais importante é que cada mulher possa viver de forma autêntica, plena, e em paz com suas escolhas.


Seja mulher. Seja mãe. Seja ambas. Ou nenhuma. Desde que seja uma escolha sua.

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