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É “UTÓPICO” FALAR EM NEGÓCIO NO SECTOR DO TURISMO EM ANGOLA

Por: Agostinho Gayeta


Angola dispõe de um forte potencial turístico que vai desde à fauna, flora, património edificado, simbolismo, manifestações religiosas, culturais e artísticas, o turismo urbano, montanhismo e o turismo de aventura, assim como os cursos fluviais atraentes fazem do território com 1.246.700 Km2 e mais de 1.600 km de extensão costeira, um espaço propício para prosperar economicamen



te com o desenvolvimento da indústria da paz.


Todavia, a falta de aposta em sectores-chave como a saúde, educação, formação especializada, investimento em infraestruturas turísticas e complementares como estradas impossibilitam a realização de turismo de massa e deitam por terra todo um conjunto de oportunidades de negócios neste sector.


Carlos Bumba, Presidente Executivo da Associação dos Guias de Turismo e Servidores Artísticos de Angola, refere que apesar de todo potencial turístico nacional é “utópico” falar em negócio neste sector por conta de condições básicas, tais como, as dificuldades de obtenção de divisas e serviços cambias, as complicações de funcionamento da rede de cartões visa e mastercard, a instabilidade cambial e a inexistência de electrificação e canalização de água potável em zonas de interesse turístico.


«É muito utópico falar em oportunidades de negócios no sector do turismo. Não temos electrificação, não temos canalização de água potável, não temos terraplanagem nas zonas de interesse turístico», referiu o especialista.


Acrescentou que só se pode falar de oportunidades de investimento no sector do turismo “quando houver uma aposta na educação com resultados tangíveis, quando houver uma aposta no sector da saúde, porque não pode haver turismo e oportunidade se naquela localidade não haver um posto médico ou uma agulha”.


O Presidente da República, João Lourenço, recomendou recentemente a realização de "um profundo diagnóstico” ao sector do turismo para descobrir por que “razão é que, com todas as condições que Angola tem” o país não consegue ainda “verdadeiramente atrair turistas”.

“O factor guerra está ultrapassado, já lá vão 22 anos, isentamos os vistos aos cidadãos de mais de 90 países, melhorámos o ambiente de negócios, no geral, e mesmo assim o que constatamos na realidade é que não sentimos a mudança necessária no que diz respeito à procura do nosso país como o novo destino turístico”, disse o Presidente.

Para o Chefe de Estado angolano, é preciso um trabalho conjunto para uma viragem significativa no quadro do turismo de Angola e sublinhou a importância do turismo para a economia nacional.


«O turismo é um bom embaixador dos países que têm o turismo desenvolvido, porque leva o nome desse país aos quatro cantos do mundo, mas é um dos sectores que cria bastante emprego”, afirmou o presidente angolano, destacando por outro lado que o Governo está a lutar contra o desemprego, sobretudo os jovens, e “o turismo é um daqueles sectores que pode contribuir de forma considerável para baixar os índices de desemprego, que o país, infelizmente, ainda vive».


O turismo em Angola é um diamante bruto que precisa ser refinado para contribuir para o crescimento económico, diz Sadoc Alfredo, Presidente da Associação Vida Angola para quem “é preciso criar as condições necessárias para prática do turismo e a atracção cada vez maior de turistas”.


«Olho para o turismo de forma particular como o segundo petróleo de Angola. Nós podemos tornar o nosso PIB mais robusto com a arrecadação de mais receitas e a circulação da economia. O país só ganhará no turismo se as condições forem criadas», diz o líder associativo.

 

Sadoc Alfredo, Presidente da Associação Vida Angola refere que o país só vai vencer no sector se as vias de acesso estiverem em condições, se os investimentos públicos e privados estiverem alocados nos lugares turísticos.


«Será que os estrangeiros que vêm no nosso país, ao irem para estes locais quando voltam para os seus países de origem, têm vontade de cá voltar? Será que o que nós mostramos atrai? Qual é a mensagem que eles passam? Será que é uma mensagem que cria água na boca, cria expectativas ou é uma mensagem desencorajadora?

Há uma diversidade de oportunidades para exploração turística do país, mas com enormes desafios estruturais e operacionais que acabam por obstruir o desenvolvimento social e económico de Angola, afirma Luísa Cristóvão, Promotora de Eventos Turísticos e Guia Turística.


«O vasto potencial turístico apresenta diversos desafios estruturais e operacionais que acabam por obstruir o desenvolvimento socioeconómico de Angola»

O Executivo angolano implementou diversas reformas na legislação angolana, o que revitalizou o sector do turismo e o ambiente de negócios no país. O Decreto Presidencial n.º 189/23, prevê a isenção de vistos para cidadãos de 98 países, o que retira a burocracia na entrada de turistas em massa no território angolano.


Em Angola, 51% do fluxo turístico nos últimos seis anos é proveniente da Europa, 17,1% de outras partes do continente africano e 15% da Ásia. Dados de um estudo sobre “Diagnóstico do Turismo em Angola: Avaliação de Desafios e Oportunidades” revelam que 60% dos europeus visitam Angola por motivos de trabalho, enquanto 17,4% por negócios e 16,7% para lazer.

 O mesmo estudo, que cita dados do Plano Nacional de Fomento ao Turismo – PLANATUR, 2024, refere que entre 2016 e 2022, a contribuição do turismo para o PIB sofreu uma redução 1,3% para meros 0,01%. As receitas, que eram de 628 milhões de dólares em 2016, caíram para 24 milhões em 2022.


O Plano Nacional de Fomento ao Turismo aponta a necessidade de se reavaliar e adaptar as estratégias do sector para aproveitar as oportunidades emergentes de um mercado global cada vez mais competitivo. «Através de reformas legislativas, melhorias infraestruturais e uma promoção mais assertiva e direcionada Angola poderá realinhar o sector de turismo para que este desempenhe um papel crucial no desenvolvimento económico sustentável do país», refere o estudo.


A indústria do turismo é geradora de emprego para população e de receitas para o Orçamento Geral do Estado, sobretudo quando feito em massa. Contudo, não há turismo social e de massa em Angola. Esta situação, segundo Luísa Cristóvão, põe em causa os investimentos e as oportunidades de negócios na indústria da paz e consequentemente a economia nacional.

«O turismo deve antes de tudo merecer a confiança dos locais, dos cidadãos do nosso país. Ora, em Angola, devido a crise que estamos a viver as famílias não conseguem colocar férias, o descanso ou as actividades culturais no seu orçamento. Não há turismo de massa ou social em Angoa porque a classe média não consegue poupar para isto porque está preocupada com a alimentação ou a saúde», disse a Guia Turística.

É preciso acreditar no turismo e fazer dele uma fonte de receita e principal cartão postal de Angola, pois o país tem tudo para dar certo neste sector, disse Sadoc Alfredo, Presidente da Associação vida Angola.


«O turista quando vai para algum local, precisa ter coisas que lhe atraem, que lhe acrescenta algum valor. Se há dificuldade de acesso, dificuldade de acomodação, de acomodação de forma geral a pessoa não quer voltar lá mais.


Mas, quando há facilitação de acesso, nas trocas de experiência e na troca de serviços, ali sim o turismo vai fluir e vai se tronar num elemento fundamental para nossa economia, sobretudo para o PIB.”

É imprescindível investir na formação cultural, turística e na cidadania para que se alargue o conceito de turismo e a população tenha mentalidade turística. Carlos Bumba, Presidente Executivo da Associação dos Guias de Turismo e Servidores Artísticos de Angola entende que o turismo deve fazer parte do plano curricular no sistema de ensino e não se resuma à “ir estar num restaurante, comer e dormir num hotel e mais nada”.


«Uma vez não fazendo parte dos curriulas fica difícil mesmo nos próximos 15-20 anos termos esta alteração no número de turistas, no sentido dos nacionais superarem porque nem sequer ainda começamos a introduzir o turismo nos currículos escolares, sobretudo a questão do património natural, património cultural. A importância de se fazer turismo. Isto tem que passar pelas escolas e pela comunicação social, assim como as igrejas»

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