
Analistas lamentam condição socioeconómica a que muitos antigos combatentes e veteranos da pátria estão voltados actualmente
- Portal Destaques
- 8 de jul. de 2024
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Por: Agostinho Gayeta
No dia-a-dia, aqueles que com bravura e sentido patriótico elevado deram início em 1961, na Baixa de Cassanje, em Malanje, à luta que culminou com o alcance da independência de Angola a 11 de Novembro de 1975, experimentam dificuldades de natureza diversa, sendo alguns obrigados a mendigar para poder se alimentar, embora o Governo dê uma pensão mensal na ordem de 23 mil kwanzas.
A situação não honra, nem dignifica os construtores da obra que deu lugar à liberdade do povo angolano.
Temos sentido alguma tristeza no rosto de muitos mais velhos, que hoje estão idosos, e também de muitos dos seus filhos.
Eles lutaram pela independência de Angola mas, não saboreiam os ideias que nutriam.
Muitos perguntam se valeu a pena ter lutado pela independência nacional», diz o analista Albino Pakissi, Filósofo e docente universitário.
Para o também o Filósofo e docente universitário, Albino Pakissi, em face da actual conjuntura, a condição social e económica dos antigos combatentes e veteranos da pátria tem sido uma das causas de algumas revoltas sociais de ex-militares, pelo que, a abertura para o entendimento e o diálogo seria uma das soluções.
«Não convém a quem governa que os antigos militares se revoltem. Muitos deles são do gatilho e da guerra e deixa-los condição deplorável não é bom para própria segurança nacional», afirmou.
O Governo tem trabalhado na criação de condições de reintegração socioeconómica, para a defesa, protecção, promoção e dignificação social dos antigos combatentes, cuja base de dados do Sistema de Segurança Social das Forças Armadas Angolana regista mais de 80 mil pensionistas e assistidos entre antigos combatentes e veteranos da pátria, viúvas, deficientes de guerra, órfãos e acompanhantes em todo o país.
O apoio para criação de Cooperativas Agrícolas e, mais recentemente, a distribuição de cartões de identificação e subvenções de serviços sociais e económicos, como energia eléctrica, água potável, transportes públicos, escolas, hospitais e outros.
Para o Sociólogo e docente universitário, Carlos Conceição, o tratamento dado aos antigos combatentes em Angola, embora alguns tenham sido condecorados pelo Presidente da República, é “completamente desumano” e, por isso defende um estatuto especial para estes cidadãos.
«Eu reprovo este modelo deplorante não se aconselha. O tratamento que se dá a estas pessoas é desumano” e penso que não seria neste sentido, por isso aconselhamos o Executivo a criar um estatuto especial para os antigos combatentes e seus familiares».
Pelo menos que os antigos combatentes ganhassem o equivalente a 20% do salário dos deputados à Assembleia Nacional, reforça o analista social.
«Deveria ser o contrário, eu sou de opinião que 20% do salário dos deputados seria a pensão para os pensionistas, seria um pequeno conforto.
O tratamento dado aos veteranos de Angola se traduz na falta de patriotismo, civismo e de amor à pátria, afirma Alcides Chivangu, Ex militar das Forças Armadas Angolanas, Mestre em Psicologia do Trabalho e das Organizações. Para aquele especialista em saúde mental tal comportamento da sociedade e do Governo tem implicações psicológicas para os antigos combatentes, causando transtornos mentais devido as expectativas frustradas por não se sentirem reconhecidos pelo esforço e entrega à pátria.
É preciso exigir dignidade e direitos humanos a favor dos angolanos, afiançou o também docente universitário, para quem o povo não se pode calar diante desta realidade, devendo exigir dos governantes um posicionamento melhor em relação aos heróis e bravos combatentes que outrora deram o peito à bala em defensa do território nacional.
Para o também especialista em Neuro psicopedagogia «quando vemos os nossos pais, avós, vizinhos e tios que lutaram com coragem e hoje os seus familiares não conseguem usufruir dos benefícios as pessoas criam transtornos mentais. É missão do Estado garantir a saúde mental de todos, pelo que deve ser criado um programa de reabilitação dos angolanos. Não são apenas as pessoas que viveram a guerra que estão a sofrer, mas também os seus descendentes».
Para aquele académico angolano, o maior sofrimento de um povo não é apenas a falta de comida, mas a falta de dignidade e de honra.
É preciso mudar o quadro e seguir exemplos de outros países, valorizando os veteranos da pátria diz o analista Albino Pakissi para quem a construção de lares de idoso é parte da solução, na ausência de um melhor serviço social a favor dos veteranos. As cooperativas agrícolas não são suficientes para pôr cobro à situação social e económica deste dos heróis das guerras de libertação nacional.
«Para lá de estarmos a viver uma crise que dura alguns anos, a grande realidade é que aqueles que lutaram para a independência do país não têm uma condição social satisfatória. É muito triste encontrar em muitas localidades no interior do país, idosos a pedirem esmolas»
A mendicidade, a prática do comércio informal, entre outras, são consequências sociológicas da falta de valorização e do abandono a que estão voltados aqueles que se bateram pelo alcance da liberdade de Angola.
O sociólogo e docente universitário, Carlos Conceição entende que os antigos combatentes não devem apenas ser lembrados a 4 de Fevereiro, dai que sugere acções de apoios mais concretas para mudança do quadro desfavorável para quem tudo deu pela pátria mãe.
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