ADOLESCENTE ESCAPA A RAPTO E REENCONTRA A FAMÍLIA CINCO MESES DEPOIS
- Portal Destaques
- 30 de jun.
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Por: Redacção | Portal Destaques.ao
Cinco meses depois de ter desaparecido misteriosamente, João Bemessa, adolescente de 16 anos, voltou ao seio familiar, no Bairro Cassaguidi, município de Canzar, província da Lunda-Norte.
O jovem havia desaparecido em Fevereiro deste ano, depois de aceitar uma proposta de trabalho feita por uma senhora oriunda da República Democrática do Congo. A promessa era tentadora: vender roupa usada na fronteira do Luvo, em troca de um salário mensal de 50 mil kwanzas. Com experiência em vendas, João decidiu aceitar a proposta, sem se despedir da família.
Ainda no mesmo dia, entregou os bolinhos e o dinheiro que havia arrecadado à nova patroa e partiu rumo a Luanda, numa viagem que durou cerca de 24 horas, com apenas um pão e uma gasosa como refeição. Já na capital do país, passou a noite no mercado dos Kwanzas e, no dia seguinte, seguiu para a fronteira do Luvo, província do Zaire.
Durante todo o percurso, João afirma que não houve qualquer intervenção das autoridades policiais para fiscalização. No entanto, ao chegar ao posto fronteiriço do Luvo, a proposta de trabalho transformou-se em algo mais sinistro. A mulher revelou que passariam a cruzar a fronteira diariamente para vender mercadoria do lado congolês — sinal claro de um possível rapto.
Percebendo o perigo iminente, o adolescente começou a gritar por socorro junto aos agentes da Polícia Nacional destacados na fronteira. Já do lado da RDC, a senhora fugiu, mas João conseguiu recuar para o território nacional, onde foi acolhido pelas autoridades.
Foi então encaminhado para o Centro de Acolhimento e Formação Profissional Frei Giorgio Zulianello, em Mbanza Kongo, onde permaneceu durante cinco meses, sob os cuidados do Frei Danilo Grossele e de educadores sociais.
Durante a estadia, João conheceu novos amigos, aprendeu a rezar o terço e decidiu abandonar a Igreja Kimbanguista e a religião muçulmana, passando a declarar-se católico convicto. Aprendeu a ler e a escrever o próprio nome e passou a dedicar-se à oração, aos estudos e à limpeza diária do espaço.
Filipe Sonho, educador do centro, revelou que o adolescente chegou a apresentar comportamento agressivo, principalmente devido aos sucessivos adiamentos do reencontro com a família, mas no geral mostrou-se empenhado e receptivo.
O reencontro com a família foi marcado por emoção. Segundo Feliz Muzagueno, tio do menino, a família só soube do desaparecimento uma semana depois, quando receberam um telefonema de uma cunhada. A primeira reacção foi fazer o anúncio na Rádio Lunda-Norte e procurar por bairros vizinhos, sem sucesso.
Algum tempo depois, foram informados pela Direcção Provincial da Acção Social de que João havia sido localizado na província do Zaire. Por falta de meios, não conseguiram enviar alguém para o identificar, mas ficaram mais tranquilos com o acompanhamento do Governo Provincial.
“Estamos felizes. Houve um momento em que nos disseram que ele tinha morrido. Agora, com o regresso, os corações voltaram ao lugar”, disse emocionada Florinda Domingas, esposa do tio.
Nos próximos dias, João regressará ao Bairro Cassaguidi, acompanhado pelo tio, para reencontrar a mãe e os irmãos.
A directora provincial da Acção Social, Família e Igualdade de Género na Lunda-Norte, Odeth Fernandes, informou que o processo de reintegração de João Bemessa teve início em Fevereiro. No total, cinco crianças em situação semelhante já foram devolvidas às famílias este ano.
O sucesso do resgate e reintegração contou com o apoio da Polícia Nacional, Instituto Nacional da Criança (INAC), Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) e da ONG Visão Global.
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